"Para que serve minha vida e o que vou fazer com ela? Não sei e sinto medo.
Não posso ler todos os livros que quero; não posso ser todas as pessoas que quero e viver todas as vidas que quero. Não posso desenvolver em mim todas as aptidões que quero. E por que eu quero? Quero viver e sentir as nuances, os tons e as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha existência. E sou terrivelmente limitada. Contudo, não sou cretina: incapaz, cega e estúpida. Não sou um ex-combatente a passar os dias na cadeira de rodas, sem os braços e as pernas. Não sou o velho mongolóide arrastando os pés ao sair do hospital de doentes mentais.
Tenho muita vida pela frente, mas inexplicavelmente sinto-me triste e fraca.
No fundo, talvez se possa localizar tal sentimento em meu desagrado por ter de escolher entre alternativas. Talvez por isso queira ser todos – assim, ninguém pode me culpar por eu ser eu. Assim, não precisarei assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento do meu caráter e da minha filosofia.
As pessoas são felizes – se isso quer dizer contentar-se com o seu quinhão: sentir-se confortável como o pino redondo complacente que se insere num orifício circular sem arestas incômodas ou dolorosas – sem lugar para reflexões e questionamentos. Não me contento, pois meu quinhão é limitador, como o de todo mundo. As pessoas se especializam; acabam por se dedicar a uma idéia; as pessoas “se encontram”. Mas o próprio contentamento que vem de você se encontrar é obscurecido pela constatação de que, ao fazê-lo, não só admite-se esquisita, mas um tipo específico de esquisita."
(Sylvia Plath)
Nenhum comentário:
Postar um comentário