Martha Graham


"Eu não quero ser uma árvore, uma flor, uma onda ou nuvem. 

No corpo de um bailarino devemos, como espectadores, tomar consciência de nós mesmos. 

Não devemos procurar uma imitação das ações quotidianas, dos fenômenos da natureza ou criaturas exóticas de outro planeta, mas sim alguma coisa deste milagre que é o ser humano motivado, disciplinado e concentrado."

Para que serve minha vida?

"Para que serve minha vida e o que vou fazer com ela? Não sei e sinto medo.

Não posso ler todos os livros que quero; não posso ser todas as pessoas que quero e viver todas as vidas que quero. Não posso desenvolver em mim todas as aptidões que quero. E por que eu quero? Quero viver e sentir as nuances, os tons e as variações das experiências físicas e mentais possíveis de minha existência. E sou terrivelmente limitada. Contudo, não sou cretina: incapaz, cega e estúpida. Não sou um ex-combatente a passar os dias na cadeira de rodas, sem os braços e as pernas. Não sou o velho mongolóide arrastando os pés ao sair do hospital de doentes mentais. 

Tenho muita vida pela frente, mas inexplicavelmente sinto-me triste e fraca.


No fundo, talvez se possa localizar tal sentimento em meu desagrado por ter de escolher entre alternativas. Talvez por isso queira ser todos – assim, ninguém pode me culpar por eu ser eu. Assim, não precisarei assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento do meu caráter e da minha filosofia.

As pessoas são felizes – se isso quer dizer contentar-se com o seu quinhão: sentir-se confortável como o pino redondo complacente que se insere num orifício circular sem arestas incômodas ou dolorosas – sem lugar para reflexões e questionamentos. Não me contento, pois meu quinhão é limitador, como o de todo mundo. As pessoas se especializam; acabam por se dedicar a uma idéia; as pessoas “se encontram”. Mas o próprio contentamento que vem de você se encontrar é obscurecido pela constatação de que, ao fazê-lo, não só admite-se esquisita, mas um tipo específico de esquisita."

(Sylvia Plath)

Eu queria dar sossego ao meu coração


Sossega, coração! Não desesperes! 
Talvez um dia, para além dos dias, 
Encontres o que queres porque o queres. 
Então, livre de falsas nostalgias, 
Atingirás a perfeição de seres. 

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! 
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente, 
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 

Sossega, coração, contudo! Dorme! 
O sossego não quer razão nem causa. 
Quer só a noite plácida e enorme, 
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa